Combate à violência doméstica ganha batalhão policial e reforço do Judiciário

O poder público de Mato Grosso do Sul começou o Mês da Mulher com medidas efetivas para ampliar a proteção às vítimas de violência. Na prática, a Polícia Militar aumentará de sete para dezenas o número de policiais exclusivos para proteger e escoltar vítimas de violência doméstica, conforme já havia anunciado o Correio do Estado em primeira mão.Já o Poder Judiciário adotou posturas para dar mais efetividade às medidas protetivas, como a ampliação do efetivo de oficiais de Justiça dedicados à aplicação da Lei Maria da Penha, além de uma integração maior com a Polícia Civil para troca de informações sobre agressores.Em entrevista exclusiva ao Correio do Estado, o presidente do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul (TJMS), desembargador Dorival Renato Pavan, afirmou que as medidas que dependem do Poder Judiciário começam a ser aplicadas já neste mês.A primeira delas é a criação de mais uma vara exclusiva para atender vítimas de violência doméstica. Ela foi lançada nesta sexta-feira, véspera do Dia Internacional da Mulher.“Nós estamos ampliando o atendimento, a possibilidade de o juiz examinar mais rapidamente os fatos que vêm à mão dele, para poder proferir a decisão mais adequada ao caso”, explicou Dorival Pavan.O objetivo principal dessa integração entre Poder Executivo e Poder Judiciário, contudo, é garantir que a mulher vítima de violência doméstica não fique desprotegida depois de procurar a polícia ou o Judiciário.“A mulher obtém o direito [à medida protetiva] em um único local.
O objetivo é que ela saia da delegacia e vá até sua casa acompanhada de policiais militares, um homem e uma mulher, para exigir que o marido ou companheiro deixe o local ou, então, que ela busque seus pertences com segurança”, disse Dorival Pavan.O que garantirá essa proteção será a criação do Batalhão Maria da Penha da Polícia Militar pela Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) e um convênio firmado entre a Polícia Civil e o TJMS.Esse convênio permitirá a integração dos sistemas Sigo (da polícia) e eSaj (do Judiciário), agilizando a concessão de medidas protetivas ou, caso os antecedentes do agressor sejam graves, permitindo até mesmo a decretação de prisão preventiva no mesmo dia do atendimento à vítima na delegacia.CASO DE VANESSAAs medidas implementadas pelo governo do Estado e pelo Poder Judiciário ocorrem aproximadamente um mês depois do assassinato da jornalista Vanessa Ricarte.Ela foi morta dentro de seu apartamento pelo ex-noivo, o músico Caio Nascimento. No momento do crime, estava acompanhada de um amigo e vinha justamente da Casa da Mulher Brasileira com uma medida protetiva contra Caio impressa em mãos.Com o novo protocolo, Vanessa teria ido até sua casa – para expulsar o ex-noivo agressor ou buscar seus pertences – escoltada por uma equipe da Polícia Militar.Horas antes de ser morta, Vanessa se queixou do mau atendimento na Casa da Mulher Brasileira, sobretudo das delegadas da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam). O áudio com suas reclamações, gravado horas antes do crime, repercutiu em todo o Brasil e gerou uma catarse, com milhares de mulheres denunciando a indiferença dos servidores das delegacias especializadas aos relatos das vítimas.Quase um mês depois do assassinato de Vanessa, Caio continua preso e foi enquadrado em quatro crimes pelo Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MPMS): feminicídio, cárcere privado, violência psicológica e tentativa de homicídio do amigo de Vanessa.
A pena somada para todos esses crimes pode ultrapassar 80 anos.NOVA VARAO TJMS inaugurou, nesta sexta-feira, a 4a Vara de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, que, entre outras medidas, pretende intimar os agressores via WhatsApp, além de ampliar o atendimento e fortalecer a rede de proteção às vítimas de violência doméstica em Campo Grande e Mato Grosso do Sul. “Caso não seja possível intimar o agressor pessoalmente, a ideia é que possamos fazer isso via WhatsApp, para que ele não dê desculpas de que não foi avisado”, destacou o presidente do TJMS, Dorival Pavan.O novo espaço se une à 3a Vara de Violência Doméstica, localizada na Casa da Mulher Brasileira – terá outros 12 oficiais de Justiça (que se unem aos 8 já existentes) – já na próxima semana, em espaço que conta com assistência social, atendimento psicológico, arquivo de processos, cartório, gabinete para juiz e sala de apoio.O reforço pretende desafogar a alta demanda judiciária do setor, como os mais de 15,3 mil pedidos de medidas protetivas de urgência ao longo do último ano em todo o Estado.Conforme o desembargador, outra medida essencial já estudada é fazer com que nenhuma mulher saia da delegacia sem medida protetiva, além do acompanhamento da Polícia Militar, seja para retirar o agressor de casa, seja para que ela retire seus pertences e deixe o local. (Colaborou Alison Silva)Assine o Correio do Estado@@NOTICIAS_RELACIONADAS@@.
🔔 Clique no link, entre em nossa comunidade no WhatsApp do Guia Lacerda e receba notícias em tempo real!