Insatisfeitos, donos de carros da chinesa BYD vão à Justiça em Mato Grosso do Sul

Insatisfeitos, donos de carros da chinesa BYD vão à Justiça em Mato Grosso do Sul

Problemas nos carros da fábrica chinesa Build Your Dreams (BYD) já estão batendo na porta do Poder Judiciário em Mato Grosso do Sul. O Correio do Estado encontrou várias ações judiciais de clientes insatisfeitos com os automóveis da montadora, que produz carros elétricos e híbridos.Nessas ações, os pedidos são dos mais variados: desfazimento do negócio e restituição do valor pago, substituição do veículo defeituoso por um automóvel novo e indenizações por danos morais.Na ação mais recente, o empresário José Rodolfo Gadotti, de Sidrolândia – cidade distante 60 km de Campo Grande –, pede a substituição de seu SUV BYD Song Plus GS DMi, versão top de linha do veículo híbrido, o qual conta com dois propulsores, um a combustão e outro elétrico, interdependentes.O motivo do pedido ajuizado na Justiça neste mês são as tentativas frustradas de resolver o problema do automóvel, cuja chave eletrônica por aproximação não funciona.Em condições ideais, o equipamento – que utiliza a tecnologia NFC (a mesma dos cartões de crédito) – abriria ou fecharia o veículo simplesmente com a aproximação do dono, desde que ele esteja com a chave habilitada em seu celular ou smartwatch. Para piorar, o veículo apresentava ruídos no painel – problema, aliás, também relatado por outros proprietários.A modernidade do sistema de abertura NFC, contudo, não valeu de nada para o empresário de Sidrolândia.

Ele fez o primeiro contato com a concessionária da marca em Campo Grande, a Original Xangai Veículos, em 18 de setembro de 2024. Na ocasião, o problema não foi resolvido, e os técnicos da montadora, em São Paulo (SP), tiveram de entrar em ação.Foram vários telefonemas, além de videochamadas entre os técnicos de São Paulo e de Campo Grande, e nada do problema ser resolvido. Até mesmo a fábrica na China foi comunicada.A gota d’água que transbordou toda a insatisfação de Gadotti caiu no dia 7 de fevereiro, quando as peças que vieram da China – e que prometiam resolver o problema – foram trocadas e instaladas.

Mas nada foi resolvido.Agora, Gadotti vai à Justiça. Ele quer a substituição do veículo por outro com as mesmas características ou mais equipado, além de pelo menos R$ 20 mil de indenização. O veículo custou a ele R$ 209 mil.RUÍDO E MAU CHEIROO advogado Pedro Henrique Negrão Lourenço também teve problemas com o mesmo modelo de SUV híbrido da BYD.

Ele quer a devolução dos R$ 189,8 mil que pagou no modelo Song Pro GL DM.Em 26 de novembro de 2024, ele procurou a concessionária para comunicar um defeito no amortecedor esquerdo, além de ruídos no painel. O veículo ficou inutilizado por quase 20 dias, tendo sido devolvido com o amortecedor substituído em 17 de dezembro.Quando pegou o carro de volta, o ruído persistia. Ainda, um novo problema surgiu: um mau cheiro saindo do ar-condicionado.

Em janeiro deste ano, o problema no amortecedor voltou, e uma nova substituição só foi agendada para fevereiro.O advogado Pedro Henrique Negrão Lourenço, que advoga em causa própria, cansou do atendimento e dos problemas não resolvidos. Agora, pede o valor pago à empresa chinesa e à concessionária de volta. Ainda, solicita mais R$ 50 mil em indenização por danos morais.VIRALO terceiro caso envolvendo um cliente sul-mato-grossense insatisfeito com os carros chineses da BYD é o do dentista Leonardo Corrêa Miranda.

Ele tinha uma caminhonete híbrida BYD Shark e teve a sua primeira surpresa desagradável no dia 22 de novembro do ano passado.Quando viajava de Campo Grande para Cuiabá (MT), o motor a combustão sofreu um dano gravíssimo ao passar perto da cidade de Coxim. Ali, a caminhonete dele praticamente chegou ao fim.Até o fim daquele ano, ele teve muitas dificuldades com a empresa chinesa e sua equipe de pós-venda. O problema só foi resolvido quando ele postou um vídeo no Instagram que viralizou, obtendo mais de 70 mil curtidas.A BYD, então, procurou Leonardo e firmou uma transação, com cláusula de confidencialidade, para desfazer o negócio.

O dinheiro da picape com o motor fundido foi devolvido – um total de R$ 379,8 mil.A empresa chinesa, porém, contestou a ida de Leonardo à Justiça, que agora cobra R$ 10 mil de indenização por danos morais. No contrato em que recebeu o dinheiro de volta e devolveu a picape defeituosa, o dentista assinou uma cláusula de confidencialidade que também afirmava que todas as pendências relativas ao negócio estavam encerradas. Na contestação, a BYD pede que o processo tramite em sigilo.Em nenhum dos três processos mencionados nesta reportagem há decisões terminativas.Fábrica no BrasilA BYD iniciou suas operações no Brasil em 2015, com a instalação de uma fábrica de montagem de chassis de ônibus elétricos em Campinas, no interior de São Paulo.

No mesmo ano, a empresa também inaugurou um centro de pesquisa e desenvolvimento voltado à energia solar.Em 2017, passou a operar uma segunda planta voltada à produção de módulos fotovoltaicos. A presença da BYD no País cresceu com a abertura de concessionárias e com o início das importações de veículos elétricos e híbridos plug-in, ampliando o seu portfólio no setor automotivo brasileiro.Em 2023, a empresa anunciou a construção de um complexo industrial na cidade de Camaçari (BA), no espaço antes ocupado pela fábrica da Ford. O projeto previa três unidades: uma voltada à produção de veículos elétricos e híbridos, outra para fabricação de chassis de ônibus elétricos e uma terceira para o processamento de lítio e ferro fosfato, matérias-primas essenciais para a produção de baterias.O investimento estimado ultrapassa os R$ 3 bilhões, com geração de aproximadamente 5 mil empregos diretos e indiretos, segundo projeções da própria montadora e do governo baiano.Para o futuro, a BYD planeja expandir a sua participação no mercado brasileiro, por meio da nacionalização de sua produção, com expectativa de iniciar a montagem de veículos ainda neste ano.

A empresa também pretende ampliar a rede de concessionárias, consolidando-se como fornecedora de soluções em mobilidade elétrica.Paralelamente, a marca chinesa mantém foco em parcerias para fomentar a cadeia produtiva de componentes estratégicos e na integração entre seus setores de transporte, energia renovável e armazenamento energético no País.Assine o Correio do Estado@@NOTICIAS_RELACIONADAS@@.

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Adriano Monezi

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