Ortopedia da Santa Casa não atende pacientes há 6 meses

Ortopedia da Santa Casa não atende pacientes há 6 meses

Em crise financeira neste início de ano, a Santa Casa de Campo Grande paralisou o atendimento ambulatorial e de cirurgias complexas – como de ortopedia e cardiovasculares – há quase seis meses. É o que indica um relatório do começo deste mês de circulação interna do hospital ao qual o Correio do Estado teve acesso.O total de procedimentos nas áreas de ortopedia, cardiologia pediátrica, urologia e cirurgias plástica, cardiovascular, geral e do aparelho digestivo que deixaram de ser realizados passa de 3,3 mil, conforme indica o documento assinado por chefes do ambulatório geral da Santa Casa.A situação é grave, sobretudo quando se trata de procedimentos ortopédicos – e a Santa Casa é uma referência para o Sistema Único de Saúde (SUS) não apenas em Campo Grande, mas em todo o Estado.Pelo menos 420 procedimentos, que incluem consultas e pré-operatórios, não são realizados desde 3 de setembro de 2024. E não há data para que eles sejam retomados.A suspensão desses procedimentos inviabiliza a realização de qualquer cirurgia eletiva nessa área dentro do hospital.

O Correio do Estado apurou que apenas cirurgias em caráter emergencial estão sendo realizadas, assim como cirurgias eletivas em que o paciente tem encaminhamento e procedimentos pré-operatórios feitos fora da Santa Casa.Os procedimentos ortopédicos suspensos são com pacientes com problemas de quadril, mão e joelho. Não é coincidência que esses membros sejam alguns dos mais afetados em acidentes de motocicleta, por exemplo.Mas o caso é ainda mais grave: pelo menos 112 procedimentos de cardiologia pediátrica deixaram de ser realizados desde 7 de janeiro. Para piorar, o médico responsável por esse setor solicitou desligamento do hospital no dia 23 do mesmo mês.Desde 16 de dezembro de 2024, a Santa Casa não realiza mais atendimentos em pré-operatórios, de retorno de cirurgia e de egressos na área de cirurgia cardiovascular.

Os problemas cardiovasculares são nada menos que a principal causa de mortalidade em Mato Grosso do Sul. Ao todo, 785 procedimentos não foram realizados nessa área.A urologia também é um problema. O atendimento a homens com doenças no aparelho genital, incluindo alguns tipos de câncer, praticamente não existe mais na Santa Casa.Foram pelo menos seis meses de suspensão, entre 2/9/2024 e 10/2/2025, data em que o documento previa o retorno dos procedimentos.

Ao todo, 1.176 atividades ambulatoriais deixaram de ser realizadas.NO VERMELHOAs prestações de conta da Santa Casa indicam que ela voltará a fechar no vermelho no ano contábil de 2024, depois de no ano anterior ter conquistado um resultado operacional positivo de R$ 27,5 milhões.O perdão de algumas dívidas e a renegociação de outras com a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional ajudaram no resultado positivo do hospital.Em 2024, porém, o hospital voltou a normalidade, gastando em alguns meses – sobretudo com material e pessoal – o dobro de sua receita, tendo um fluxo de caixa negativo.O fluxo operacional de dezembro de 2024, publicado pelo hospital, mostra que a unidade encerrou o ano com um resultado operacional negativo de R$ 129 milhões. A dívida em aberto com fornecedores foi a maior responsável pelo resultado negativo no fluxo de caixa: R$ 122 milhões.Esse é um dos motivos da paralisação de parte dos procedimentos. No contexto, também está o constante atraso nos repasses de verbas do SUS, do Estado e de recursos próprios, do município para o hospital.

Para piorar, um acordo firmado no início da década – em que o município complementaria o repasse das verbas federais para o hospital com mais R$ 1 milhão – não está sendo cumprido.Na semana passada, o diretor técnico da Santa Casa, William Lemos, afirmou ao Correio do Estado que tem procurado a Prefeitura de Campo Grande reiteradamente para discutir a relação financeira, mas não tem tido êxito. Ele apontou a relação como “deficitária” para o hospital.“O contrato sempre vem sendo negociado e imposto em condições que historicamente não atendem à necessidade de custo da Santa Casa. A inflação de materiais médicos e o valor da força médica, além da força de outras categorias, como enfermagem e fisioterapia, têm aumentado ao longo do tempo, e isso também impacta bastante esse deficit”, declarou a Santa Casa de Campo Grande, por meio de nota assinada por Lemos.Assine o Correio do Estado.

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Adriano Monezi

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