“O Último Episódio” retrata bairro de Contagem e evoca iniciação cinematográfica de um dos integrantes do coletivo Filmes de Plástico

Por Maria do Rosário Caetano

“O Último Episódio”, primeiro longa solo de Maurílio Martins, é a cara da produtora que lhe deu origem, a Filmes de Plástico. Afinal, envolve, para valer, os quatro integrantes da trupe mineira, que começou a realizar curtas no município de Contagem, na grande Belo Horizonte, 16 anos atrás. E que transformou-se em foco gerador de filmes que causaram ótima impressão nos festivais e, um deles, destacou-se até no circuito exibidor – “Marte Um”, de Gabriel Martins, o Gabito.

Em cartaz em São Paulo e com estreia nacional prevista para esta quinta-feira, 9 de outubro, “O Último Episódio” tem Gabriel Martins como um de seus atores. Ele interpreta um professor de escola de primeiro grau, que toca na banda Ano Letivo e motiva os alunos a dedicar-se, além dos estudos, à arte, em especial à música.

André Novais Oliveira, outro esteio da Filmes de Plástico, aparece no filme também como intérprete de um personagem – o fotógrafo Marcos, que ajudará um dos protagonistas, o adolescente Erik (Matheus Sampaio) a iniciar-se na produção audiovisual.

Thiago Macêdo Correia, o mais dedicado à produção entre os quatro fundadores do coletivo de Contagem, dessa vez, exerceu mais um ofício, o de co-roteirista. Maurílio engendrou a trama, que tem muito de autobiográfica, e contou com a ajuda do colega.

“O Último Episódio” é fruto, portanto, da soma de esforços do quarteto mineiro, que assina a produção do primeiro longa solo do codiretor do thriller “No Coração do Mundo” (2019, parceria com Gabito).

Maurílio, de 47 anos, dirigiu vários curtas e parece ser, dos três diretores da Filmes de Plástico (André Novais, Gabito e ele), o que mais se preocupa em dialogar com o público. “No Coração do Mundo” tinha tudo para vender milhares de ingressos. Por problemas históricos do cinema brasileiro em sua busca de inserção no circuito exibidor, o filme não atingiu seu objetivo. Agora, o realizador mineiro enfrenta o mesmo desafio. Duas distribuidoras, a Malute e a Embaúba, somam forças para dar visibilidade ao novo filme. Mas não está fácil. Mais uma vez, uma produção da Filmes de Plástico obtém espaço reduzido no circuito exibidor. Vale lembrar, que, até agora, só “Marte Um” conseguiu circuito e resultado mais significativo (aproximou-se dos 100 mil espectadores).

Nesse momento, Maurílio finaliza a direção geral da série “Americana”, que criou para a Disney+, e participa de dois episódios de “O Natal dos Silva”, criação de Gabito, com estreia prevista para dezembro. Segue, pois, inteiramente dedicado ao audiovisual, assim como seus pares no coletivo de Contagem, hoje, sólida produtora, com acervo significativo de títulos, tanto de curtas, quanto de longas-metragens.

“O Último Episódio” se passa no ano de 1991, no bairro proletário de Laguna, em Contagem. Erik, de 13 anos, quer trocar seu primeiro beijo com a garota que o encanta, que quer ver transformada em sua namorada. Para impressionar a adolescente, ele garante ter em casa fita na qual está registrado o lendário final de “Caverna do Dragão”, série-sensação da garotada. Mete-se, claro, numa enrascada, pois não tem a fita para mostrar à garota. O jeito é ganhar tempo e buscar uma saída.

Com a ajuda dos melhores amigos, Cristiane (Tatiana Costa) e Cassinho (Daniel Victor), Erik vai engendrar, numa velha câmara herdada do pai, roqueiro rebelde de quem ele pouco sabe, a manufatura do tal e tão desejado episódio. E viver experiências formadoras junto à comunidade na qual está inserido.

Que ninguém espere o ritmo sacudido como “No Coração do Mundo”. “O Último Episódio” é um filme singelo, amoroso e (quase) documental. Somos, ao longo de suas quase duas horas de duração, transportados para o bairro Laguna, onde residem pessoas trabalhadoras. Pessoas que sobrevivem com o dinheiro contado e assistem às transformações cotidianas das grandes cidades brasileiras (Contagem soma, hoje, 622 mil habitantes). No começo dos anos 1990, firmava-se o esgarçamento das relações sociais. Já não valia mais acertar um contrato de aluguel no “fio do bigode”. Começava a vigorar a exigência da intermediação de uma imobiliária e, consequentemente, a presença da figura (tão difícil) do fiador.

O roteiro de Maurílio e Thiago é engenhoso. Além do tema da iniciação amorosa, aliás nem tão importante na trama, o que veremos é o desejo de retratar bairro periférico e suas relações cotidianas, com ênfase na escola, na amizade dos meninos e, principalmente, no prazer do aprendizado, autodidata, do fazer cinematográfico. Sem esquecer as pitadas de humor, tempero frequente nas produções da Filmes de Plástico.

 

O Último Episódio
Brasil, 2025, 112 minutos, 12 anos
Direção: Maurílio Martins
Elenco: Matheus Sampaio (Erik), Daniel Victor (Cassinho), Tatiana Costa (Cristiane/Cristão), Camila Morena (Milene), Rejane Faria (Dona Judite), Maria Leite (Margarete), Gabriel Martins (Prof. Juarez), André Novais Oliveira (Marcos), Babí Amaral (diretora da escola), Daniel Jaber (Vilmar), Leonardo De Jesus (Zena), Robert Frank (Mauro), Eid Ribeiro (Seu Raimundo), Lara Silva (Sheila), Lois Martins (Cassiane), Leo Pyrata (Tucão)
Roteiro: Maurílio Martins e Thiago Macêdo Correia
Fotografia: Leonardo Feliciano
Montagem: Gabriel Martins, Marco Antônio Pereira e Yasmin Guimarães
Música: John Ulhoa e Richard Neves
Animações: Wesley Rodrigues
Direção de arte: Mariana Souto
Figurino: Caroleta Maurício
Caracterização: Marina Sandin
Produção: Filmes de Plástico, coprodução do Canal Brasil
Distribuição: Malute e Embaúba


Fonte: https://revistadecinema.com.br/2025/10/o-ultimo-episodio-retrata-bairro-de-contagem-e-evoca-iniciacao-cinematografica-de-um-dos-integrantes-do-coletivo-filmes-de-plastico/

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