Cinco filmes pré-indicados ao Oscar vão disputar o Troféu Bandeira Paulista com “Eclipse” e “Copinha”
Foto: “Eclipse”, de Djin Sganzerla
Por Maria do Rosário Caetano
Os dois representantes brasileiros na competição Novos Diretores da 49ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo – a ficção “Eclipse”, de Djin Sganzerla, e o documentário “Copinha”, de Joaquim Salles – vão enfrentar dez produções internacionais, sendo cinco delas pré-indicadas para disputar vaga no Oscar, na categoria melhor filme internacional.
O público elegeu, entre 118 realizações de diretores de até segundo longa-metragem, os doze títulos que vão disputar o Troféu Bandeira Paulista, criação de Tomie Otake. Os que foram apresentados por seus países de origem à Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood são “Feliz Aniversário”, de Sarah Goher (Egito), “A Garota Canhota”, de Shih-Ching Tsou (Taiwan),“Homebound”, de Neeraj Ghaywan (Índia), “The President’s Cake”, de Hasan Hadi (Iraque), e “A Sombra do meu Pai”, de Akinola Davies Jr., realizado na Nigéria, mas inscrito pelo Reino Unido.
Curioso notar que a Nigéria, o mais populoso dos países africanos (232 milhões de habitantes), pátria de ‘Nollywood’ (filmes “sem orçamento”), resolveu não indicar longa-metragem para representá-la. O NOSC (Comitê Oficial de Seleção Nigeriano) entendeu, depois de analisar seis títulos inscritos, que os filmes locais “ainda carecem de desenvolvimento criativo e técnico intencional para melhorar seu potencial competitivo em premiações globais”. A Inglaterra, por sua vez, não pestanejou: inscreveu “A Sombra do meu Pai”, realizado na Nigéria, por cineasta de origem nigeriana, embora radicado na Grã-Bretanha.
As regras da Academia — no que se refere à categoria filme estrangeiro — (ainda) exigem que 50% dos diálogos se dêem em idioma que não seja o inglês. Como proceder com a Nigéria, se o país tem o inglês como idioma oficial? Enquadrá-la ao lado dos EUA, Canadá, Reino Unido, Austrália e Nova Zelândia e vocacioná-la a disputar vagas em categorias destinadas ao cinema anglo-saxão?
A questão é complexa, pois a Nigéria é um país africano. E, para complicar ainda mais, a Nação que já ultrapassou o Brasil em população, não considerou “A Sombra de meu Pai” uma realização afro-nigeriana. Inscreveram-se seis filmes 100% made in Nigéria para disputar a vaga e nenhum foi habilitado.
“A Sombra do meu Pai” se define como “um conto nigeriano com ingredientes autobiográficos, ambientado em um único dia na grande metrópole de Lagos (21 milhões de habitantes), durante a crise eleitoral de 1993. Um pai, afastado dos dois filhos pequenos, vê seu regresso ao lar ameaçado pelos acontecimentos políticos.
Dois dos filmes pré-indicados ao Oscar são dirigidos por mulheres – “Feliz Aniversário”, da egípcia Sarah Goher, e “A Garota Canhota” (Left- Handed Girl), da taiwanesa Shih-Ching Tsou. Ambas radicadas nos EUA. Mas seus longas têm histórias profundamente ligadas à realidade de seus países de origem (os EUA assinam como parceiras financeiras) e são falados nos idiomas árabe e chinês.
A história de “Feliz Aniversário” começa como uma comédia. Uma garota muito esperta e despachada trabalha como “doméstica” numa residência de classe média. A filha da dona da bela casa vai aniversariar, mas sua mãe não deseja fazer festa, pois está perturbada pelo iminente divórcio do marido. A “doméstica” mirim (prática ilegal também no Egito) tudo fará para ajudar a concretizar a festa. Afinal, ela deseja apagar uma das velas do bolo e fazer um pedido. Dali em diante, a trama assumirá tons de drama social à moda neo-realista, dos mais comoventes.
“A Garota Canhota” tem um trunfo na manga: a tripla presença do cineasta Sean Baker, vencedor da última edição do Oscar, com “Anora” (ele é co-roteirista, montador e coprodutor do longa taiwanês). O filme, que encantou o público da Mostra, é protagonizado por uma menininha de cinco anos, apavorada pelo avô pois, no entendimento dele, a mão esquerda, a dos canhotos, é a “mão do diabo”. Além da garotinha, há mais duas personagens femininas, mãe e filha, das mais fascinantes.
“The President’s Cake”, do iraquiano Hasan Hadi, e “Homebound”, do indiano Neeraj Ghaywan, completam a lista dos “oscarizáveis” e também causaram sensação na Mostra. Em especial, o primeiro, também protagonizado por uma garotinha, escolhida para fazer um bolo, em tempo de Guerra do Iraque e falta de comida. A menina não desejava assumir a tarefa, mas acabou escolhida pelos coleguinhas e terá que arrumar os ingredientes necessários ao confeito que homenageará o aniversário do presidente.
“Homebound” tem dois jovens à frente do elenco (o público da Mostra segue encantado/seduzido por crianças e adolescentes protagonistas). Amigos de infância, eles sonham com um emprego na Polícia. Afinal, tal colocação lhes dará a dignidade que tanto almejam. Mas a busca pelo ofício poderá ameaçar o vínculo que os mantém unidos.
A ficção brasileira “Eclipse” é o segundo longa da atriz Djin Sganzerla (o primeiro foi “Mulher Oceano”). Protagonizado pela cineasta-atriz, o filme reúne elenco do mais significativo peso – o coprotagonista Sérgio Guizé, os craques Helena Ignez, Selma Egrei, Clarice Abujamra e Luis Mello, a cult Gilda Nomacce e os jovens Lian Gaia e Pedro Goiffman.
Cleo, astrônoma de 47 anos, está grávida. Ela recebe a visita da meia-irmã mais nova, Nalu, de origem indígena. Nalu traz um segredo que vai perturbar a astrônoma. Juntas, elas descobrirão que o companheiro de Cleo se ocupa com atividades que têm as profundezas da Deep Web como sombrio celeiro.
“Copinha”, o único documentário da competição, traz a assinatura do estreante Joaquim Salles. E adolescentes como protagonistas. O documentarista acompanha a luta de jovens boleiros que atuam, sob o comando de um técnico lusitano, no Campeonato Sub-20. Eles defendem as cores do Esporte Clube Macapá, atuante na capital do Amapá, região amazônica. Com pegada observacional, o filme registrará temas como masculinidade, religião e a frenética busca pela fama, tendo as redes sociais como veículo.

Cinco filmes, dois deles dirigidos por mulheres, completam a lista de concorrentes ao Troféu Bandeira Paulista: o mexicano “Vainilla”, de Mayra Hermosillo, o tunisiano “De Onde Vem o Vento”, de Amel Guellaty, o espanhol “A Luta”, de José Alayón, o estadunidense “À Paisana”, de Carmen Emmi, e o macedônio “DJ Ahmet”, de Georgi Unkovski. Este, um projeto que uniu três territórios da antiga Iugoslavia, à República Tcheca.
“Vainilla” marca a estreia de Hermosillo na direção. Ela, que é atriz, trabalhou com grandes nomes do cinema mexicano (Amat Escalante, Rodrigo Plá, Luis Estrada, entre outros) e participou de “Narcos México”, a fase asteca da poderosa série da Netflix. Mais um filme, entre os selecionados, com protagonista infantil. Nos anos 1980, Roberta, de oito anos, observa sua família de sete mulheres, que enfrentam dívida que parece impagável. O filme participou da Jornada dos Autores, em Veneza, e rendeu a cineasta o Prêmio Valentina Pedicini (destinado a realizações de cineastas-mulheres).
“De Onde Vem o Vento”, da tunisiana Amel Guellaty, reúne dois jovens, que são amigos de infância. Ela, Alyssa, enfrenta a vida com empenho. Ele, Mehdi, é um artista sensível. Ambos sentem-se sufocados pela vida nos subúrbios de Tunis. Ela o convence a participar de concurso artístico na ilha de Djerba, por acreditar que novos caminhos se abrirão para eles. Os dois passam, então, a percorrer intensa e fantástica jornada Tunísia a fora. A amizade deles resistirá aos desentendimentos do caminho?
O espanhol “A Luta”, de José Alayón, também tem uma adolescente como coprotagonista. Mariana vive com o pai, Miguel, na ilha de Fuerteventura. A perda da esposa deixa Miguel à deriva. Mariana também sofre forte abalo. Dedicados a um tipo de luta tradicional, eles seguem em frente. O corpo de Miguel já não é o mesmo. Os sofrimentos de Mariana a levam a romper regras. O campeonato se aproxima do fim e os dois, imersos em incertezas, buscam saídas, antes que seja tarde demais.
“À Paisana”, do realizador norte-americano Carmen Emmi, gira em torno de Lucas, um jovem policial, que atua disfarçado em banheiros de um shopping. Ele seduz homens para, em seguida, prendê-los. Tudo mudará quando ele conhecer Andrew.
A Macedônia do Norte se faz representar na competição pelo ficcional “DJ Ahmet”, de Georgi Unkovski. Mais um filme sobre adolescentes. Ahmet, de 15 anos, vive numa aldeia distante, na antiga Iugoslávia. A música é seu refúgio. Mas as expectativas criadas pelo pai e os princípios rígidos de sua comunidade perturbarão a jornada do rapazinho. Para complicar, ele se apaixonará por uma jovem. Mais um problema, pois já está prometida a outro. O filme ganhou o Prêmio do Júri, no Sundance Festival, e o Prêmio do Público.
Os vencedores dos troféus Bandeira Paulista serão anunciados na Cinemateca Brasileira, na próxima quinta-feira, 30 de outubro. O júri compõe-se com a roteirista e realizadora colombiana Laura Mora, do megassucesso “Cem Anos de Solidão” (série da Netflix), a cineasta portuguesa Denise Fernandes, os produtores Atilla Salih Yücer, da África do Sul, e Daniel Dreifuss, brasileiro radicado nos EUA (ele é filho do pesquisador René Armand Dreifuss, autor do seminal “1964 – A Conquista do Estado”), e pelo crítico-chefe da revista Variety, o estadunidense Peter Debruge.
Boa parte dos doze filmes mais bem avaliados pelo público ainda terá sessões nos cinemas. Confira locais e horários:
A Luta, de José Alayón (Espanha, Colômbia, ficção)
24/10, às 18h, no Circuito Spcine Olido
26/10, às 17h, no Circuito Spcine Lima Barreto – CCSP
À Paisana, de Carmen Emmi (EUA, ficção)
28/10, às 15h, no Multiplex Playarte Marabá – 4
30/10, às 21h20, no CineSesc
A Sombra do meu Pai, de Akinola Davies Jr. (Reino Unido, Nigéria, ficção)
28/10, às 19h20, no Espaço Petrobras de Cinema – 2
DJ Ahmet, de Georgi Unkovski (Macedônia, República Tcheca, Sérvia, Croácia, ficção)
28/10, às 13h30, no Espaço Petrobras de Cinema – 1
De Onde Vem o Vento, de Amel Guellaty (Tunísia, França, Catar, ficção)
28/10, às 19h00, no Circuito Spcine Paulo Emilio – CCSP
Feliz Aniversário, de Sarah Goher (Egito, ficção)
29/10, às 17h40, no Cine Satyros Bijou
Homebound, de Neeraj Ghaywan (Índia, ficção)
28/10, às 19h, no Multiplex Playarte Marabá – 1
29/10, às 16h15, na Sala Petrobras na Cinemateca
Left-Handed Girl, de Shih-Ching Tsou (Taiwan, França, EUA, Reino Unido, ficção)
26/10, às 18h15, no Sato Cinema
The President’s Cake, de Hasan Hadi (Iraque, EUA, Catar, ficção)
24/10, às 15h, no Espaço Petrobras de Cinema – 1
Vainilla, de Mayra Hermosillo (México)
24/10, às 16h – Circuito Spcine Olido
28/10, às 21h10, na Cinemateca Brasileira (Oscarito)
Eclipse, de Djin Sganzerla (Brasil, ficção)
Copinha, de Joaquim Salles (Brasil, documentário)
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