EUA recuam e zeram tarifaço para produtos brasileiros: vitória do agro e do consumidor

Em uma virada inesperada, o governo dos Estados Unidos anunciou na quinta-feira (20) a retirada completa das tarifas extras de 40% aplicadas a diversos produtos brasileiros . A medida, assinada por ordem executiva de Donald Trump, tem efeito retroativo a 13 de novembro, devolvendo milhões de dólares aos exportadores do Brasil.
A decisão atinge diretamente alguns dos produtos mais importantes da pauta exportadora brasileira, derrubando as sobretaxas que incidiam sobre o setor exportador do país, como o café, carne bovina, frutas, corte de madeiras e medicamentos. São itens essenciais tanto para o agronegócio brasileiro quanto para o abastecimento dos supermercados americanos, o que explica por que a Casa Branca acabou recuando.
É o fim, ao menos por ora, do pacote tarifário conhecido como Liberation Day, que havia elevado tarifas a até 50% em setores estratégicos, parte do esforço de Trump para endurecer a política comercial em 2025.
Embora a Casa Branca fale em “avanços diplomáticos” com o Brasil e cite o presidente Lula de forma amistosa, analistas americanos e brasileiros leem a mudança de forma mais pragmática: foi o mercado que falou mais alto.
O consumidor dos EUA está pressionado por preços elevados desde o pós-pandemia, e tarifas sobre alimentos essenciais só aumentariam o desconforto político para Trump às vésperas das festas de fim de ano. Alguns dados explicam:
- Os EUA dependem do Brasil para quase 30% do café solúvel que consomem.
- Metade do suco de laranja vendido nos supermercados americanos vem do Brasil.
- A carne bovina brasileira é difícil de substituir rapidamente por preço e volume.
A soma disso com a atuação intensa de redes de supermercados, indústrias de alimentos e distribuidores criou um cenário claro: manter tarifas altas significaria inflação no carrinho de compras, e desgaste político.
Trump apresentou a medida como um gesto de boa vontade na relação bilateral, mas o recuo tem outro nome: pressão econômica.
A tarifa brasileira era pequena no contexto da guerra comercial que os EUA travam com China, México e Canadá. Mas, neste caso, o impacto direto no consumo americano era real e imediato.
Além disso, o Brasil sinalizou que poderia reagir em áreas sensíveis para os Estados Unidos, como etanol, aço e produtos industriais. A simples possibilidade de retaliação ajudou a acelerar o recuo.
A retirada das tarifas significa um alívio importante para o agronegócio, que enfrenta margens apertadas desde o início do ano. A estimativa inicial é que:
Alguns milhões de dólares voltam para o caixa de produtores e exportadores brasileiros apenas com café e suco de laranja.
Setores como proteína bovina e frutas tropicais também devem recuperar competitividade.
Mas há um alerta: a tarifa básica de 10% permanece em alguns itens, e Trump tem histórico de decisões inconsistentes. A relação bilateral segue sensível, especialmente se houver tensões políticas ou mudanças bruscas no dólar.
O recuo reduz a pressão inflacionária sobre produtos de consumo diário, café, sucos, proteínas e frutas,e diminui o custo político de tarifas amplas que, desde 2025, vêm sendo criticadas por economistas e consumidores.
Também alimenta o debate sobre as políticas comerciais de Trump. As tarifas funcionam para proteger indústrias estratégicas, mas, quando afetam o bolso do eleitor, o efeito se volta contra o próprio governo.
O episódio mostra que, mesmo em um cenário de protecionismo crescente, existem limites. Quando a cadeia global de alimentos está envolvida, barreiras comerciais podem gerar mais prejuízo doméstico do que vantagem estratégica.
No caso Brasil-EUA, quem controla a comida controla a negociação. E, neste setor, o Brasil continua sendo um ator que nenhum país, nem mesmo os Estados Unidos, pode ignorar.
A retirada das tarifas não simboliza amizade entre Lula e Trump, nem um grande acordo bilateral. É um movimento típico da nova geopolítica comercial: se o impacto econômico pesa demais, a ideologia cede espaço ao pragmatismo.
O agro brasileiro, pela importância global que conquistou, demonstrou novamente que não é apenas exportador, é um ativo de poder.
A guerra comercial de 2025 está longe de acabar. Mas, desta vez, ao menos por alguns produtos, o Brasil saiu da defensiva e fez o maior martelo tarifário do mundo recuar.

*Miguel Daoud é comentarista de Economia e Política do Canal Rural
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