Orçamento de 2026 antecipa a disputa eleitoral e fragiliza o ajuste fiscal

O Congresso Nacional aprovou o Orçamento de 2026 sob o discurso da responsabilidade fiscal. No papel, tudo parece organizado: números alinhados ao novo arcabouço, promessas de equilíbrio e a narrativa de que o país está fazendo o “dever de casa”. Mas basta tirar o orçamento da prateleira e colocá-lo sobre a mesa para perceber que ele tem menos de planejamento e mais de imaginação criativa. Não é exagero dizer que há ali um toque de ficção científica.
Para acomodar interesses políticos, o Congresso promoveu cortes em áreas sensíveis, como Previdência e programas sociais, entre eles o Pé-de-Meia, enquanto inflou, sem pudor, as chamadas emendas parlamentares. O resultado é um orçamento que tira de quem precisa para reforçar o caixa de quem decide.
O número chama atenção: R$ 61 bilhões em emendas parlamentares, um recorde histórico. Nunca o Congresso teve tanto poder direto sobre a destinação do dinheiro público. Na prática, isso significa transformar o orçamento federal em um grande balcão de negociação política, especialmente em um ano que antecede as eleições.
E não para por aí. O texto aprovado também reserva R$ 4,9 bilhões para o fundo eleitoral. Em um país que corta programas sociais em nome do ajuste fiscal, esse valor não passa despercebido. A mensagem implícita é clara: falta dinheiro para políticas públicas, mas nunca para campanhas eleitorais.
Outro ponto que merece atenção são as receitas estimadas que ainda não se materializaram. O orçamento conta com entradas que dependem de medidas futuras, aprovação de projetos incertos ou crescimento econômico otimista. É o famoso “dinheiro que ainda não chegou”, mas que já está comprometido. Na prática, o risco é empurrar o problema para frente, como tantas vezes já fizemos.
Esse tipo de arranjo cria um orçamento bonito na apresentação, mas frágil na execução. Quando a realidade não acompanha o roteiro, o governo é obrigado a contingenciar, cortar novamente ou buscar soluções emergenciais, quase sempre às pressas e com impacto social.
O que se vê é um Congresso fortalecido politicamente, um Executivo refém da negociação permanente e um orçamento que perde sua função original: planejar o futuro do país. Em vez disso, vira instrumento de sobrevivência política, especialmente em um ambiente já contaminado pela disputa eleitoral de 2026.
Não se trata de demonizar as emendas parlamentares. Elas existem, são legais e cumprem um papel. O problema é o excesso, o descontrole e a inversão de prioridades. Quando as emendas crescem mais do que investimentos estruturais, algo está fora do lugar.
No fim das contas, o Orçamento de 2026 diz muito sobre o Brasil que somos, e pouco sobre o Brasil que gostaríamos de ser. Ajuste fiscal de verdade exige escolhas difíceis, transparência e coerência. O que se aprovou foi um arranjo político eficiente, mas economicamente frágil.
A conta, como quase sempre, ficará para depois. E, como quase sempre, quem vai pagar não está sentado no plenário.

*Miguel Daoud é comentarista de Economia e Política do Canal Rural
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