Em dia que se comemora a luta da mulher, o luto é a arma contra injustiça

A luta continua, mesmo em meio ao luto – e a afirmação não é apenas um jogo de palavras. O Dia Internacional da Mulher, instituído em 1975 para reforçar a necessidade de igualdade de direitos, segue sendo marcado por tragédias. Mulheres continuam sendo assassinadas por seus parceiros, como se o direito à vida valesse apenas para eles.
Soltos ou presos, os algozes de vítimas de feminicídio são alvo da dor e do clamor por justiça das mães que ficam. Elas lutam para preservar a memória das filhas e cobrar mudanças reais na relação entre homens e mulheres, mesmo que isso dependa de leis mais rígidas. “Não vamos desistir” – A aposentada Hilda Rodrigues Marques, de 75 anos, perdeu a filha Ana Cláudia Rodrigues Marques, de 44, assassinada em novembro do ano passado pelo ex-marido, Flávio Saad, de 49 anos.
Na mesma ocasião, ele também matou o então namorado dela, Carlos Augusto Pereira de Souza, de 49 anos. Ana e Flávio estavam separados havia dois anos, e ela havia iniciado o relacionamento com Carlos pouco mais de dois meses antes do crime, segundo a família. Nunca registrou boletim de ocorrência contra o ex, pois, de acordo com a mãe, ele apenas insistia para reatar o casamento, mas nunca a ameaçou diretamente.
Flávio Saad segue foragido. “Estou aqui, me sinto impotente, esperando que a justiça seja feita”, desabafa Hilda. No próximo dia 11, completam-se quatro meses do crime.
“A gente tem que ir para a rua, pedir justiça. Os homens não respeitam as mulheres, acham que são objetos deles”, lamenta ao falar sobre a importância do Dia Internacional da Mulher. Para ela, enquanto o ex-genro não for preso ou morto, a família não terá paz.
“Não vamos desistir. Criei minha filha com muito amor e carinho para vir um bandido e fazer o que fez dentro da casa dela. Vou continuar indo à delegacia, fazendo passeata, o que for preciso até ele ser punido”, assegura.
Ana Cláudia deixou três filhos, de 22, 20 e 8 anos, sendo o mais novo fruto do relacionamento com o assassino. “A lei tem que mudar” – No dia 22 de fevereiro, a vítima foi Mirieli Santos, de 26 anos, morta pelo ex-namorado Fausto Júnior Aparecido de Oliveira, de 31 anos. O crime chocou os moradores de Água Clara, onde Mirieli nasceu e mantinha uma loja de roupas.
A mãe dela preferiu não falar sobre o caso, mas a tia, Marina Francisca da Silva, de 51 anos, acompanhou tudo de perto e reforça a necessidade de mudanças. “Como mulher, acho que a lei tem que ser mais rígida. Temos a Lei Maria da Penha, mas os homens não têm medo”, afirma.
Para ela, vizinhos e amigos precisam intervir ao perceberem sinais de violência. “As pessoas precisam entender que devem ter o direito de interferir”, defende. Marina sabe do que fala.
Durante 15 anos, foi vítima do ex-marido, vivendo sob ameaças e medo porque não tinha condições de criar os filhos sozinha. Mesmo assim, sempre alertava Mirieli sobre o perigo do relacionamento. Duas semanas antes do assassinato, discutiu com o agressor.
“Falávamos direto para ela se afastar dele. Ela se mudou, foi para outra casa, mas ele descobria e ia atrás. A ameaçava o tempo todo.
Temos áudios e vídeos provando isso. Cuidávamos dela o tempo inteiro, mas ela nunca denunciou”, lamenta. Para Marina, apesar da dor do luto, é preciso seguir lutando.
“Já estive numa situação como a da Mirieli, só não cheguei à morte, mas consegui sair. Temos que continuar lutando e muito.” Este ano, Mato Grosso do Sul ja registra seis feminicídios. No ano passado, foram 34 mortes nesta qualificação.
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