A crise do agronegócio é a alavancagem sem gestão de risco

A crise do agronegócio é a alavancagem sem gestão de risco
agronegocio-paulista-superavit A crise do agronegócio é a alavancagem sem gestão de risco
Foto: Divulgação

O lado bom da crise é que ela obriga os agentes em prejuízo a voltarem à mesa de debates em busca de soluções. O lado ruim é que, mais uma vez, ignoram suas próprias responsabilidades acumuladas ao longo de três décadas e repetem os mesmos erros, sustentando discursos que mascaram a realidade e terceirizam responsabilidades. Agem como se não fossem eles mesmos — governo, agentes financeiros e produtores — os principais causadores do desequilíbrio atual. A pergunta é simples: não aprenderam nada com história?

No agronegócio, risco se administra, não se terceiriza. Quando se ignora esse princípio, o resultado é sempre o mesmo — crédito comprometido, renegociações recorrentes, inadimplência , recuperação judicial, perda de patrimônio do produtor, famílias desestruturadas, e um setor que continua girando no ciclo vicioso da imprevidência.

O recente discurso de significativa parte do sistema financeiro, tenta explicar o endividamento do agronegócio brasileiro sob a ótica da “alavancagem excessiva”. No entanto, essa leitura financista é míope: ignora que o verdadeiro motor da crise não é o preço, nem o mercado, mas o risco climático não gerido, que corrói margens, destrói capacidade produtiva e multiplica perdas.

Na teoria econômica, alavancagem significa o uso de capital de terceiros para potencializar retornos. É legítima quando associada à gestão de riscos. Mas, no campo, alavancar sem seguro rural e sem proteção de preço é roleta financeira. A alavancagem irresponsável nasce da omissão dos próprios agentes financeiros, que liberam crédito sem exigir garantias reais de resiliência — seguro rural e hedge de preços — e, depois, socializam prejuízos com programas de renegociação e perdão de dívidas.

A ausência de uma política robusta de gestão de riscos agropecuários, especialmente via seguro rural, é o verdadeiro nó estrutural. É incoerente que instituições financeiras que operam bilhões em crédito rural negligenciem o seguro como ferramenta essencial de estabilidade. Falar de rentabilidade e de mercado sem falar de risco climático é tratar o sintoma, não a causa.

Preço é cíclico — e pode ser protegido com hedge e derivativos. Clima é permanente — e previsível em sua imprevisibilidade. Nos países que servem de referência, como Espanha e Estados Unidos, o produtor que não contrata seguro rural ou não adota instrumentos de proteção simplesmente não recebe ajuda extraordinária. É a lógica da responsabilidade compartilhada e da prevenção.

Chegou a hora de o Brasil amadurecer. É preciso responsabilizar quem ignora o risco, exigir gestão de riscos como condição para o crédito, e estruturar políticas preventivas, não paliativas. Caso contrário, a próxima seca voltará a expor o mesmo enredo: dívidas impagáveis, renegociações disfarçadas e a perpetuação de um modelo que confunde crédito com socorro.

Pedro-Loyola A crise do agronegócio é a alavancagem sem gestão de risco

*Pedro Loyola é coordenador executivo do Observatório do Seguro Rural da FGV Agro.


Canal Rural e a FGV Agro não se responsabilizam pelas opiniões e conceitos emitidos nos textos desta sessão, sendo os conteúdos de inteira responsabilidade de seu autor. O Canal Rural se reserva o direito de fazer ajustes no texto para adequação às normas de publicação.

O post A crise do agronegócio é a alavancagem sem gestão de risco apareceu primeiro em Canal Rural.


Fonte: https://www.canalrural.com.br/opiniao-noticias/a-crise-do-agronegocio-e-a-alavancagem-sem-gestao-de-risco/

Conteúdo importado automaticamente pelo HOST Portal News

🔔 Clique no link, entre em nossa comunidade no WhatsApp do Guia Lacerda e receba notícias em tempo real!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *