Domo de Ouro: corrida pelo controverso escudo antimísseis de R$ 16,1 tri dos EUA
A Apex, uma startup da Califórnia (EUA), anunciou que demonstrará — por sua própria conta — um elemento central da proposta de defesa antimísseis dos Estados Unidos conhecida como Domo de Ouro: interceptores baseados no Espaço capazes de serem lançados e operados a partir de plataformas em órbita.
O projeto da empresa, chamado Project Shadow, pretende provar que uma “constelação operacional” de interceptores em órbita pode ser implantada no prazo que, segundo a própria Apex, o país precisa. A companhia descreve seu conceito como um “Orbital Magazine”: um veículo-orbitador que hospedará múltiplos interceptores e, após ser colocado em órbita, os liberará e comandará.
No anúncio público, o cofundador e CEO da Apex, Ian Cinnamon, afirmou: “O Apex foi criado para se mover rapidamente e é exatamente disso que os Estados Unidos e nossos aliados precisam para garantir que vençamos a Nova Corrida Espacial.”
Em comunicado adicional, Cinnamon disse: “Em menos de um ano, lançaremos a plataforma hospedeira para interceptadores espaciais, chamada Orbital Magazine, que implantará vários protótipos de interceptadores de mísseis em órbita.”

Domo de Ouro: onde a Apex se encaixa?
- Segundo a empresa, o lançamento de demonstração do Project Shadow está previsto para junho de 2026;
- Uma vez em órbita, a espaçonave de demonstração deverá liberar dois interceptores, cada um acionando um motor foguete sólido de alto impulso fornecido por um terceiro;
- A Apex informou que o Orbital Magazine provará sua capacidade de controlar ambientalmente os interceptores, emitir um comando de controle de tiro e fechar um enlace cruzado em espaço para enviar atualizações em tempo real após o desdobramento;
- A empresa calcula que o Orbital Magazine em seu projeto poderia, no futuro, transportar mais de cinco toneladas de carga de interceptores, permitindo que “milhares de SBIs [space-based interceptors, ou interceptadores baseados no Espaço] sejam colocados em órbita”;
- A Apex declarou ainda que está investindo cerca de US$ 15 milhões (R$ 80,7 milhões, na conversão direta) do próprio caixa no Project Shadow e que trabalha com parceiros pelas “partes principais do interceptador e análise da missão”, sem, no entanto, identificar publicamente todos os nomes.
Uma possível fornecedora de propulsão citada no texto é a Anduril Industries, companhia de defesa fundada por Palmer Luckey em 2017; Apex e Anduril já colaboraram anteriormente.
Além da Apex
A Apex não é a única empresa a se posicionar em torno da iniciativa Domo de Ouro. Grandes empreiteiras de defesa estadunidenses já manifestaram interesse ou estão desenvolvendo tecnologias relacionadas.
Em uma chamada de resultados trimestrais, o CEO da Lockheed Martin, James Taiclet, disse: “Na verdade, estamos planejando uma demonstração real de um interceptador em órbita, baseado no Espaço, até 2028”, sem dar mais detalhes. Taiclet afirmou também que a empresa está acelerando a capacidade de produção nos setores de mísseis, sensores, sistemas de gerenciamento de batalha e integração de satélites.
Executivos da Northrop Grumman também indicaram envolvimento na área. O Ars Technica afirma que a CEO da companhia, Kathy Warden, disse que a empresa realiza “testes baseados em solo” de tecnologia relacionada a SBIs, embora não tenha detalhado estes testes; a Northrop Grumman é a principal fornecedora nacional de motores para foguetes sólidos, um componente-chave para interceptores espaciais.

Domo de Ouro vai blindar países em uma guerra no Espaço?
O Domo de Ouro — anunciado por ordem executiva assinada pelo presidente dos EUA, Donald Trump, no início de seu segundo mandato — é apresentado pelo governo como um escudo para defender os Estados Unidos contra mísseis balísticos e sistemas emergentes, como veículos planadores hipersônicos e drones.
A administração estimou, em maio, um custo de US$ 175 bilhões (R$ 942,1 bilhões) nos próximos três anos; porém, independentemente desse número inicial, analistas apontam projeções de custo de longo prazo muito maiores, com estimativas variando de US$ 500 bilhões (2,6 trilhões) a mais de US$ 3 trilhões (R$ 16,1 trilhões). O Pentágono ainda não divulgou uma arquitetura detalhada do programa, o que aumenta a incerteza sobre custos e alcance.
O componente de interceptores em órbita — semelhante ao conceito anunciado por Ronald Reagan há quatro décadas na chamada Iniciativa Estratégica de Defesa (apelidado de “Star Wars”) — volta a ser o elemento mais controverso.
Assim como no passado, a ideia envolve uma frota de interceptores em órbita, pairando a algumas centenas de quilômetros acima da superfície, prontos para engajar mísseis logo após o disparo.
O número exato de interceptores necessários para defender os EUA de um ataque de múltiplos mísseis não foi divulgado pelos oficiais do Pentágono, mas espera-se que, provavelmente, será “na casa dos milhares.”
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Apex e estratégia de aquisição do Pentágono
No mês anterior ao anúncio, o Departamento de Defesa publicou um pedido de propostas para protótipos de SBIs. A estratégia de aquisição descrita pela Força Espacial prevê a assinatura de acordos com múltiplas empresas para desenvolver e demonstrar SBIs e competir por prêmios.
Trata-se de uma abordagem incomum: contratações que exigem que as empresas invistam recursos próprios para construir e lançar protótipos, na tentativa de, depois, ganharem contratos de produção mais volumosos.
Cinnamon ressaltou a maturidade tecnológica necessária para o projeto: “Todas as peças necessárias para torná-lo viável existem. Elas estão lá fora”, e listou elementos como satélites, boosters, buscadores, controle de fogo, atualizações de alvos em voo (IFTUs) e links inter-satélites. Segundo ele, o desafio principal é integrar essas peças sob um comando e controle sofisticado, e também ter “o suficiente deles no Espaço para realmente ter o impacto necessário”.

Perfil e trajetória da Apex
A Apex, sediada em Los Angeles (EUA), foi fundada em 2022 e já arrecadou mais de US$ 500 milhões (R$ 2,6 bilhões) de investidores. A companhia lançou seu primeiro satélite em 2024, apenas dois anos após a fundação, e, em fevereiro, venceu um contrato de US$ 46 milhões (R$ 247,6 milhões) com A Força Espacial para fornecer ao militar um número não especificado de satélites até 2032.
A empresa afirma que seus satélites são capazes de executar diversas missões: sensoriamento remoto e observação da Terra, comunicações, processamento de borda com inteligência artificial (IA) e demonstrações tecnológicas. A maior plataforma da Apex comporta cargas úteis de até 500 quilos e possui potência suficiente para suportar conectividade direta para celulares e missões de vigilância governamental.
A Apex informou que continuará a divulgar atualizações sobre o Project Shadow à medida que o lançamento se aproximar. Outras empresas, tanto startups quanto grandes contratistas de defesa, continuam a sinalizar intenção de demonstrar e escalar tecnologias relacionadas a SBIs, numa competição por uma fatia potencialmente trilionária que pode resultar da implementação do Domo de Ouro.
Embora a viabilidade técnica do Domo seja amplamente aceita por executivos da indústria, o programa enfrenta críticas por seu custo incerto e por potenciais efeitos sobre a estabilidade estratégica global.
Legisladores democratas mencionaram preocupações relacionadas aos elevados custos, à falta de definição e às implicações de segurança internacional. Diferentemente da reação ao programa dos anos 1980, no entanto, hoje, há menos ceticismo público quanto à possibilidade técnica de construir um escudo do tipo do Domo de Ouro.
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