Israel planeja deportar palestinos doentes de volta para Gaza
Yamen Al-Najjar recorda sua vida anterior – os dias em que ia à escola e ria regularmente. Hoje, aos 16 anos, ele vive com sua mãe em um quarto apertado de 6 metros quadrados, apenas grande o suficiente para acomodar uma cama hospitalar da qual raramente sai.
“A vida é difícil. Estou doente e com dor o tempo todo… Me sinto sozinho e sinto falta de casa”, disse ele à CNN.
Yamen, que tem um distúrbio hemorrágico, foi transferido de Gaza com sua mãe para um hospital palestino em Jerusalém Oriental ocupada apenas dois dias antes do ataque de 7 de outubro de 2023.
Sua condição é rara, segundo sua mãe, Haifa Al-Najjar, e seus médicos, que têm lutado para controlar seus sintomas e não conseguiram dar a ele o tratamento necessário, mesmo em Jerusalém Oriental.
Al-Najjar tem trabalhado para conseguir a transferência de seu filho para um terceiro país nos últimos dois anos.
Ela conseguiu aprovação da Organização Mundial da Saúde (OMS) para uma transferência médica, mas está procurando há 14 meses um país anfitrião que aceite seu filho para tratamento.
Na manhã de terça-feira (11), ela recebeu uma notícia que disse ter feito seu coração parar.
Médicos do Hospital Makassed informaram que as autoridades israelenses decidiram enviar todos os pacientes de Gaza de volta para casa na próxima semana, mesmo aqueles que estão atualmente em tratamento.
“Todo meu trabalho duro vai desaparecer diante dos meus olhos. Não consigo compreender como uma criança doente vai ser enviada de volta para uma área devastada pela catástrofe… Isso é uma sentença de morte para meu filho”, disse ela à CNN.
Yamen e sua mãe estão entre pelo menos 89 pacientes de Gaza e seus acompanhantes que serão deportados, segundo as equipes médicas dos hospitais Makassed e Augusta Victoria em Jerusalém Oriental.
Eles informaram à CNN que, embora alguns pacientes tenham concordado em retornar a Gaza, a maioria está sendo enviada contra sua vontade, pois não há tratamento para eles no território devastado.
A OMS informou no mês passado que 94% dos hospitais lá foram danificados ou destruídos.
Os mais jovens entre os deportados são bebês nascidos de mulheres que foram levadas a Jerusalém para tratamento, enquanto o mais velho tem 85 anos, segundo as autoridades hospitalares.
Maioria está na cidade desde antes da guerra
Salwa Massad, gerente de pesquisa da OMS, informou à CNN que a organização foi solicitada pelo Coordenador de Atividades Governamentais nos Territórios (COGAT) do exército israelense para facilitar a transferência dos pacientes no início da próxima semana.
A CNN entrou em contato com o COGAT sobre a possível deportação de palestinos doentes para Gaza, mas ainda não recebeu resposta.
O pai, o irmão e as duas irmãs de Yamen estão em Gaza, deslocados em um acampamento de tendas em Al-Mawasi, no sul, após sua casa na Cidade de Gaza ter sido bombardeada. Ele não os vê há dois anos.
Sua mãe disse que o estado de Yamen é tão grave que ele não conseguiria sobreviver em uma tenda nem por algumas horas sem tratamento médico.
“Sua pressão arterial oscila, sua temperatura está sempre baixa, ele sangra o tempo todo e sofre com dores no corpo… Eu me recuso categoricamente a voltar para Gaza”, disse ela, em lágrimas.
A organização não-governamental israelense Médicos pelos Direitos Humanos Israel (PHRI) classificou a tentativa de retornar pacientes a Gaza como “inaceitável do ponto de vista moral, médico e legal”, apontando para o sistema de saúde “não funcional” de Gaza.
“Israel tem a obrigação, sob o direito humanitário internacional, de garantir que os pacientes que necessitam de cuidados médicos continuem recebendo atendimento nos hospitais onde estão atualmente internados, ou em qualquer outro hospital em Israel ou no exterior”, disse à CNN Aseel Aburass, diretora do Departamento de Territórios Ocupados da PHRI.
Aburass enfatizou a importância dessa obrigação, afirmando que foi Israel que destruiu o sistema de saúde de Gaza e, portanto, “não pode agora se esquivar de sua responsabilidade pela vida e saúde desses pacientes.”
Ahmad Tibi, um parlamentar palestino-israelense, ecoou esse sentimento, dizendo à CNN que o bem-estar de Yamen é responsabilidade de Israel.
“Enviá-los de volta nas condições atuais será um golpe mortal; em vez de morrer por um ataque aéreo, ele morrerá por falta de tratamento médico”, afirmou.
“Vou morrer lá em dois dias”
Nafez Al Qahwaji, de Khan Younis em Gaza, disse à CNN que sofre de insuficiência renal e precisa de diálise três vezes por semana.
“O hospital nos informou ontem que todos seremos deportados de volta para Gaza. Fiquei chocado ao ouvir isso depois de saber das condições desumanas em que os pacientes vivem em Gaza”, disse ele no Hospital Makassed.
“Por que querem me mandar para o inferno? Eu morrerei lá em dois dias”, disse ele.
Nael Ezzeddine, de Jabalya, não se opõe a retornar.
Ele tem uma condição cardíaca e está no Hospital Makassed há 25 meses. Ele conta que sua casa em Gaza foi atingida pelos militares israelenses e que perdeu tudo, mas seus entes queridos o aguardam.
“Sinto falta da minha família. Tenho 10 filhos e minha esposa – todos estão deslocados em uma tenda em Deir el-Balah. Quero ir e estar com eles. Sei como eles sofrem, mas o que posso fazer aqui?”, disse ele. “Eles querem nos forçar a sair e estão sempre nos ameaçando de nos mandar de volta… Estou cansado disso. Só quero ir para minha família, mesmo que acabe morrendo.”
Esta não é a primeira vez que pacientes doentes de Gaza enfrentam essa ameaça.
Em março de 2024, autoridades israelenses estavam se preparando para enviar de volta 22 palestinos de Jerusalém Oriental para Gaza, incluindo recém-nascidos e pacientes com câncer. A Suprema Corte de Israel então suspendeu temporariamente esses planos após uma petição da PHRI e uma reportagem da CNN sobre os pacientes hospitalizados.
A maioria das pinturas de Yamen são ilustrações coloridas da natureza, paisagens e cultura palestina. Ele disse que sua paixão pela arte vem do desejo de “trazer cor de volta a um mundo que se tornou cinza.”
“Sinto falta da minha casa, das vozes dos meus irmãos, da minha escola, das cores e do mar. Sinto falta dos meus brinquedos que juntei durante toda minha infância, e de cada momento quando Gaza estava segura”, disse ele.
“Já sofri muito e só quero descansar… Espero que toda criança em Gaza viva como qualquer criança no mundo… Não quero que nenhuma criança fique doente ou com medo como eu.”
Conteúdo importado automaticamente pelo HOST Portal News
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