Festival Aruanda cria extensão na Praia do Tambaú, homenageia Vandré e festeja “nova primavera” na produção de longas paraibanos
Foto: “Corpo da Paz”, de Torquato Joel
Por Maria do Rosário Caetano
O Festival Aruanda do Audiovisual Brasileiro chega à sua vigésima edição com uma grande novidade – além de suas mostras competitivas no Circuito Cinépolis Manaíra, oferecerá ao público duas noites de Música & Cinema na Praia do Tambaú, nas cercanias do Busto de Tamandaré.
Uma dessas noites de sons & imagens, chamada Rock das Aranhas Show Live, homenagerá Raul Seixas, com exibição do filme “Raul – O Início, o Fim e o Meio”, de Walter Carvalho, e show comandado por Vivi Seixas, filha do artista (se vivo fosse, o maluco beleza faria 80 anos).
A outra noite praieira exibirá o documentário “Me Chama que Eu Vou”, de Joana Mariani, que se fará seguir de show de Sidney Magall, cuja vida é narrada também na ficção “O meu Sangue Ferve por Você”.
O Rock das Aranhas Live Show mobilizará, além da herdeira do criador de “Gita”, dez artistas paraibanos e a cantora Paula Chalup. Esta será a primeira vez em que Vivi & Paula se apresentarão em João Pessoa. E como era do gosto do roqueiro baiano, a festa será “coletiva e mobilizadora”. Os amantes artísticos e espirituais do criador de “Metamorfose Ambulante”, morto precocemente aos 44 anos, marcarão presença no palco e na plateia. A festa acontecerá na quinta-feira, 4 de dezembro.
Sidney Magall se apresentará na noite seguinte, sexta-feira, no Aruanda na Praia, com seu conjunto e cantará (com seus indefectíveis rebolado e caras-e-bocas) seus maiores sucessos (“O meu Sangue Ferve por Você”, “Sandra Rosa Madalena”, “Me Chama que Eu Vou” e assemelhadas).
O festival paraibano terá sua abertura essencialmente cinematográfica (música, só na trilha sonora dos filmes!) na noite de quarta-feira, 3 de dezembro, e prosseguirá até o dia 10, na Rede Cinépolis, com quatro mostras competitivas – duas nacionais (longas e curtas) e duas nordestinas (idem).
Como a produção local de longas-metragens vive uma “nova primavera”, semelhante à que floriu em 2018, o segmento Sob o Céu Nordestino será dedicado, por inteiro, aos filmes produzidos no Estado – os ficcionais “Malaika”, de André Morais, “Outono em Gotham City”, de Tiago A. Neves, “Batguano Returns – Roben na Estrada”, de Frederico Benevides e Tavinho Teixeira, e o documentário “O Nordeste sob a Caravana Farkas”, de Arthur Lins e André Moura Lopes.
Este filme, o da “Caravana Farkas”, selecionado para mostra informativa do Festival de Brasília, soma o trabalho de um paraibano (Lins) e de um cearense (Lopes). A dupla joga um bolão e demonstra que Arthur Lins fez por merecer, com o drama social “Desvio”, quatro importantes troféus na competição nacional do Aruanda 2019 (melhor filme, direção, ator, para Daniel Porpino, e roteiro).
O quinto longa-metragem produzido no Estado, nessa nova, festejada e prolífica safra – “Corpo da Paz”, de Torquato Joel – foi deslocado para a competição nacional, por suas substantivas e poéticas qualidades. Tão significativas que o levaram à principal competição do Festival de Brasília, em setembro último.
Torquato revisita, pelo olhar de um menino, os “Corpos da Paz”, projeto ligado à Aliança para o Progresso, instituído pelos EUA, para atuar em regiões carentes do Brasil. Em especial aquelas afetadas pela seca. Jovens norte-americanos desembarcam no Nordeste para desenvolver programas assistencialistas. Em tempo de Guerra Fria, fazia-se necessário, na ótica dos governantes do Norte desenvolvido, combater a influência do comunismo internacional, que teria na Revolução Cubana exemplo perigoso e sedutor.
Dos oito longas escolhidos para as duas competições aruandeiras, cinco são, excepcionalmente, paraibanos. Já a produção nacional se fará representar por apenas três títulos – o documentário “Honestino”, de Aurélio Michiles (DF), e as ficções “Ato Noturno”, de Filipe Matzembacher e Marcio Reolon (RS), e “Cyclone”, de Flavia Castro (RJ). Com um complicador: este último faz sua estreia no circuito comercial antes de ser exibido no Aruanda.
Festivais existem — e isto constitui regra pétrea — para exibir filmes ainda não-lançados. Na recém-concluída Mostra de Cinema de Gostoso, a cineasta brasiliense Rafaela Camelo apresentou seu filme “A Natureza das Coisas Invisíveis” ao público lembrando que fechava, naquele momento, a maratona de festivais iniciada na Berlinale, em fevereiro. Em seguida, avisou “ser chegada a hora do contato com o circuito exibidor, já que nossa estreia se fará na próxima semana (no dia 27 de novembro)”.
O Festival Aruanda prestará tributo aos 90 anos do cantor e compositor Geraldo Vandré, nascido em João Pessoa, à deputada Jandira Feghali, por suas lutas pela Cultura e pelo Audiovisual, a Eduardo Chang, da Rede Cinépolis, de origem mexicana, segundo maior grupo exibidor instalado no Brasil (o primeiro é a Cinemark), e a jornalista que aqui escreve, como missionária do cinema nacional.
No campo das homenagens póstumas serão prestados tributos a dois brasileiros que partiram nesse ano – o professor, ator e diretor Jean-Claude Bernardet (1936-2025) e o documentarista Silvio Tendler (1950-2025), amigos históricos do festival paraibano.
Para a noite inaugural do festival, que acontecerá em seu palco tradicional (o circuito Cinépolis Manaíra), foi escolhido o longa documental “Ary”, de André Weller. O filme registra a trajetória do compositor mineiro, que muitos pensam ser baiano, autor de um dos maiores sucessos de nossa música popular, “Aquarela do Brasil”. Um hit internacional, que disputa com “Garota de Ipanema” (Tom & Vinicius), o posto de composição popular brasileira mais gravada no exterior.
A vida de Ary Barroso é narrada em primeira pessoa por seu conterrâneo Lima Duarte (ambos são mineiros, o primeiro de Ubá, o segundo de Sacramento). Lima, de 95 anos, é outro amigo histórico do festival, que contou com sua participação em algumas de suas melhores edições. Numa delas, o “Zeca Diabo” arrancou sonoras gargalhadas ao narrar histórias de dois amigos nordestinos que partiram há muitos anos — Assis Chateaubriand, o Chatô (1892-1968), e Péricles (1924-1961), criador do Amigo da Onça.
Além do filme sobre o autor de “Aquarela do Brasil” (e de sucessos da grandeza de “No Tabuleiro da Baiana” e “No Rancho Fundo”) será exibido, na noite inaugural, o curta “Index-iItacoatiaraingá”, de João Lobo, artista brasileiro radicado em Lisboa.

Dois curtas da competição brasileira representarão a Paraíba. Um deles, “A Nave que Nunca Pousa”, de Ellen de Morais, dialoga com o “Aruanda”, de Linduarte Noronha. Trata-se de um documentário hibridizado pela ficção científica. A cineasta e seu co-roteirista e montador Jaime Guimarães revisitam o Quilombo de Serra do Talhado. Foi nesse lugarejo de difícil acesso e vidas precárias que nasceu o clássico do cinema paraibano (do qual veremos, em poético preto-e-branco, trechos dos mais significativos). Hoje, os moradores do Talhado encontram-se às voltas com os incômodos sonoros causados pelas turbinas eólicas (ou aerogeradores de energia) lá implantados.
O outro representante do estado-sede do Festival Aruanda é “A Arte de Morrer ou Marta Díptero Braquícero”, de Rodolpho de Barros, diretor de fotografia dos mais talentosos. Ele já preparando sua estreia no longa-metragem (“Grande Dia”).
Até a noite de entrega dos troféus Aruanda, tributo ao mais famoso filme paraibano de nossa história cinematográfica, haverá seminários, encontros, oficinas, palestras e debates sobre assuntos diversos. Entre eles, a “Nova Primavera do Cinema Paraibano”, “Curadoria e Programação – Os Festivais como Audiências de Promoção da Cidadania e Democracia Cultural”, e temas ligados às Políticas Públicas de Fomento ao Audiovisual (nesse caso, com participação da deputada federal Jandira Feghali, que fará conferência sobre “Lei Aldir Blanc – Um Legado do Congresso Nacional para a Cultura Brasileira”). Haverá, também, lançamentos de livros como “Lula”, de Fernando Morais, “Luz & Sombra”, de André Cananéia, e “Cultura é Poder”, da deputada Feghali.
COMPETIÇÃO BRASILEIRA (longa-metragem)
. “Corpo da Paz”, de Torquato Joel (ficção, PB, 78 minutos).
. “Honestino”, de Aurélio Michiles (documentário, DF, 85 minutos)
. “Ato Noturno”, de Filipe Matzembacher e Marcio Reolon (ficção, RS, 119 minutos)
. “Cyclone”, de Flavia Castro (ficção, RJ, 101 minutos)
COMPETIÇÃO NORDESTINA (longas-metragens)
. “O Nordeste sob a Caravana Farkas”, de Arthur Lins e André Moura Lopes (documentário, PB-CE, 107 minutos)
. “Malaika”, de André Morais (ficção, PB, 85 minutos)
. “Outono em Gotham City”, de Tiago A. Neves (ficção, Campina Grande João Pessoa-PB, 97minutos
. “Batguano Returns – Roben na Estrada”, de Frederico Benevides e Tavinho Teixeira (ficção, PB, CE, RJ, SP, 84 minutos)
CURTA-METRAGEM BRASILEIRO
. “A Nave que Nunca Pousa”, de Ellen de Morais (documentário, Campina Grande, 15’)
. “A Arte de Morrer ou Marta Díptero Braquícero”, de Rodolpho de Barros (ficção, João Pessoa, 14’)
. “Vulkan”, de Julia Zakia (ficção, SP, 15’)
. “Samba Infinito”, de Leonardo Martinelli (ficção, Rio de Janeiro, 15’15’’)
. “Vípuxovuko – Aldeia”, de Dannon Lacerda (ficção, Campo Grande-MS, 15’31’)
. “Safo”, de Rosana Urbes (animação, São Paulo, 12’18’’)
. “Gilson de Souza – Na Corda Bamba”, de Brunno Alexandre (ficção, Marília-SP, 10’19’’)
. “Axé Meu Amor”, de Thiago Costa (ficção, São Paulo, 15’9’’)
CURTA-METRAGEM PARAIBANO
. “Jacu”, de Ramon Batista (ficção, Nazarezinho, 11’39’’)
. “Boi do Mato”, de Ana Calline (documentário, Cabaceiras, 15’37’’)
. “Colmeia”, de Tatiane de Oliveira (documentário, Campina Grande, 10’36’’)
. “Valéria di Roma”, de Carlos Mosca (ficção, Campina Grande, 15’)
. “Cantilena”, de Dhiones do Congo (ficção, Congo, 11’27’’)
. “No Compasso do Coração”, de Ary Régis Lima (ficção, Alagoa Grande, 15’55’’)
. “Aláfia”, de Cecilia Fontenele (ficção, João Pessoa, 14’40’’)
. “Teatro em Jampa Vive”, de Kelly Freire Moreira (documentário, João Pessoa, 14’16’’)
SESSÕES ESPECIAIS
TV & Cinema:
. “Jorge quer Ser Repórter”, de Lula Queiroga e Victor Germano (ficção, São João do Cariri, 50’). Produção da Rede Paraíba de TV
Sessão Cinema & Educação:
. “Lendo o Mundo”, de Catherine Murphy e Iris de Oliveira (documentário Brasil-EUA, 70minutos). Filme sobre a experiência de Alfabetização de Adultos pelo método Paulo Freire, em Angicos-RN.
Ariano Suassuna e “Habeas Pinho”:
. “A Pedra do Reino e o Sertão de Dom Pantero”, de Manuel Dantas Vilar (documentário, João Pessoa, 59’)
. “Habeas Pinho”, de Aluízio Guimarães e Nathan Cirino (ficção com produção executiva de Gal Cunha Lima, Campina Grande, 24’)
Sessão Paris-Paraíba:
. “Saint Germain, 40 graus”, de Bruno Costa Araujo (documentário, Paris, 19’)
. “A Alma do Onze”, de Caetano Moura Alves (documentário, Paris, 19’)
. “Paris Gaza”, de Mariana Inacio Silveira (documentário, Paris, 17’)
. “Para o Corpo, a Luta”, de Mayara Valentim Pereira (documentário, Paris, 14’)
. “A Receita da Felicidade”, de Mikaëli Santos (documentário, Paris, 17’)
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