Mergulho noturno revela interação inédita entre peixes e anêmonas

Mergulho noturno revela interação inédita entre peixes e anêmonas
20251205_peixinho Mergulho noturno revela interação inédita entre peixes e anêmonas
Foto: Richard Collins

A relação entre o peixe-palhaço (Amphiprion ocellaris) e suas casas vivas de anêmonas é um exemplo de mutualismo bastante explorado pela literatura científica, mas essas associações parecem não se limitar ao pequenino tricolor laranja, preto e branco.

É o que relata um artigo publicado no Journal of Fish Biology com participação da USP.

Fotografias da parte superficial do mar permitiram analisar a associação de quatro famílias de peixes (MonacanthidaeAriommatidaeBramidae Carangidae) com três famílias de antozoários, todos em estágio de vida inicial: Arachnactidae Cerianthidae (Ceriantharia).

As classes são popularmente conhecidas como anêmonas tubulares – ou que habitam tubos; e Sphenopidae (Zoanthidea), frequentemente referidas como anêmonas incrustantes ou zoantídeos.

“Pela primeira vez, foi documentado esse comportamento entre peixe-anêmona de outras espécies, que era restrito ao peixe-palhaço, em ambiente recifal”, afirma Murilo Pastana, coautor do artigo e professor associado ao Museu de Zoologia (MZ) da USP.

Registros e identificação

Mergulhadores de águas escuras (mergulho à noite) registraram os zooplânctons (organismos que vivem em suspensão no ambiente aquático) na Flórida, nos Estados Unidos.

“É um completo breu, um mergulho assustador. Demos sorte de descobrir que isso era o hobby de alguém”, conta Pastana.

Ele explica que nunca houve registro desse comportamento, exatamente por essa dificuldade de documentar águas epipelágicas (da superfície até aproximadamente 200 metros ou 660 pés de profundidade) no ambiente de mar aberto à noite.

As coletas usuais, que conservam espécimes com químicos em potes fechados, não são propícias para se observar o mutualismo entre elas. 

“Podemos observar eles vivos nessas fotos e vídeos. Com base nisso, temos acesso a uma qualidade, uma quantidade de informação que não tínhamos antigamente”, finaliza o professor.

Além disso, essas relações são caracterizadas por benefícios mútuos. A hipótese dos autores é que as toxinas liberadas a partir da dispersão das larvas de anêmonas protegem os peixes filhotes. Eles explicam, ainda, que essa interação é facultativa, e ocorre apenas nas fases iniciais da vida.

A identificação taxonômica das fotos foi baseada em informações da localidade, por outras fotografias, comparações com descrições da literatura e com espécimes do acervo do MZ, além do registro da observação dos mergulhadores. 

Mergulho e parceria 

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Foto: Richard Collins

Mergulhar para tirar essas fotografias em mar aberto à noite é um hobby caro e novo, conforme o pesquisador. Do equipamento de mergulho às câmeras fotográficas com flashes potentes capazes de registrar animais tão pequenos, são muitos recursos necessários para realização da tarefa.

Richard Collins, mergulhador e fotógrafo responsável pelos registros do artigo, diz que as dificuldades não estão nos recursos, mas na dificuldade para captar boas imagens.

“É uma hora ou mais de carro até o barco, uma hora ao cais, mais uma para chegar à água onde vamos mergulhar. Mergulhamos por algumas horas, voltamos para casa e tenho que trabalhar no espécime”, explica o mergulhador ao Jornal da USP.

Esse trabalho exaustivo torna mais restrito o público que pratica mergulho, mas Collins diz que se sente grato em contribuir com a ciência com informações ainda pouco entendidas.

“A recompensa é poder participar e trabalhar com cientistas de renome mundial, alguns dos melhores zoólogos de invertebrados do mundo. É bom ter um hobby com propósito e valor”, vislumbra o fotógrafo.

Esse resultado é apenas um dos trabalhos em que seus registros estão sendo usados.

Murilo Pestana conheceu o trabalho de Collins pelas mídias sociais em um grupo de compartilhamento de fotos feitas em mergulhos em águas escuras criado por um colega do mergulhador.

Como o americano não tem perfil na rede social, foi conhecer Murilo Pastana diretamente no Smithsonian Museum, um dos maiores complexos de museus e centros de pesquisa do mundo localizado nos Estados Unidos (EUA). Depois de um tempo, os dois fizeram uma parceria para realizar esse estudo.

Águas brasileiras 

Por isso, os registros, feitos na zona temperada das águas da Flórida, traz dados inéditos para a ciência que preenchem lacunas no entendimento das interações do zooplâncton em mar aberto.

De acordo com Gabriel Afonso, doutorando no Instituto de Ciências Marinhas da Virgínia e coautor do artigo, essas lacunas podem ser maiores em zonas tropicais devido à rica biodiversidade.

“Por mais que não tenhamos o financiamento necessário para esse tipo de hobby através de métodos mais baratos, como madeiras luminosas, é possível fazer essa coleta em praias ou cais, tanto de dia quanto à noite. Encontraríamos uma diversidade muito interessante, considerando a biodiversidade do Brasil”, afirmou o cientista.

O pesquisador critica essa desigualdade nos recursos entre os EUA e o Brasil, que reconhece a capacidade dos cientistas daqui em fazer muito com pouco.

Ele ainda ressalta que os curadores das coleções recebem os brasileiros muito bem, porque existe uma rede de colaboração forte com diversos brasileiros também formados nessas instituições. O contato com a sociedade nesse trabalho destacou para ele o valor das colaborações.

“O nosso trabalho fica meio fechado nesse ambiente. É muito limitado na associação com o público. Esse trabalho é muito bacana, porque interagimos com pessoas que não são cientistas”, diz Gabriel Afonso.

*Com informações do Jornal da USP/Jean Silva

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Fonte: https://www.canalrural.com.br/diversos/mergulho-noturno-revela-interacao-inedita-entre-peixes-e-anemonas/

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